A jovem empresária Ana Nunes transformou a dor em força e o sonho partilhado com o namorado num projeto de vida. O restaurante Harmony é hoje um espaço de referência pela autenticidade, pelo acolhimento e pela harmonia entre sabores, pessoas e emoções.
Quando o Harmony abriu portas, a 16 de Julho de 2022, em Armação de Pêra, era o resultado de um projeto pensado a quatro mãos. Ana Nunes, natural de Portimão, e o namorado, André Arcadinho, partilhavam não só uma relação pessoal, mas também uma paixão profissional: a gastronomia e o desejo de criar algo diferente.
«O Harmony nasceu de um projeto a dois. Eu sempre estive ligada à cozinha e à pastelaria, o André à área de restaurante e bar. Juntámos as duas partes e criámos um espaço que refletisse o melhor dos dois mundos», recorda Ana, com orgulho.
Formada em cozinha e pastelaria há cerca de dez anos, a jovem trabalhou em várias unidades hoteleiras do Algarve, mas sentia necessidade de dar um passo em frente.
«Queríamos criar algo nosso, uma coisa fora do comum, que transmitisse uma verdadeira harmonia — entre sabores, ambiente e experiência do cliente», explica.
O destino, porém, viria a testar a força de Ana de forma inesperada. Um ano depois da abertura do restaurante, em Agosto de 2023, André Arcadinho perdeu a vida num acidente de mota.
«Foi um choque. O Harmony era o nosso projeto, cada detalhe foi pensado pelos dois — as cadeiras, os candeeiros, o logótipo, tudo. De repente, fiquei sozinha a ter de decidir tudo», confessa a proprietária do Harmony.
Durante um mês, o espaço manteve-se de portas fechadas.
«Eu vinha para cá todos os dias sem saber o que estava a fazer. Isto tornou-se o meu refúgio. Era o meu ponto seguro depois de tudo o que aconteceu», recorda.
Apesar da dor, Ana tomou uma decisão difícil, mas definitiva: continuar.
«Pensei em desistir, sim. Mas algo em mim dizia que não podia. O Harmony é e será sempre um projeto a dois. Mesmo que hoje seja só meu, trago sempre um bocadinho dele aqui», afirma, com um sorriso.
O nome do restaurante, escolhido a dois, ganhou ainda mais significado após a tragédia.
«Harmony vem de harmonia, e o nosso logótipo tem um cervo. O cervo representa a ligação entre o céu e a terra. Hoje acredito que tenho um anjo da guarda a ajudar-me lá em cima», partilha.
Aos 25 anos, Ana aprendeu a gerir não só um negócio, mas também a dor e a responsabilidade.
«Acho que esta força vem mesmo daqui, do Harmony. É o que me motiva todos os dias a levantar-me e continuar», diz.
Entre desafios diários e dias menos bons, a jovem empresária confessa que é o contacto com os clientes que lhe dá ânimo.
«Eu passo muito tempo na cozinha, mas adoro vir cá fora, falar com as pessoas, perceber se estão bem. O acolhimento ao cliente é o mais importante. Quando o cliente se sente bem recebido, quer voltar — e isso é o maior elogio que posso ter», reflete Ana.
O Harmony destaca-se pelo ambiente acolhedor e pelo conceito de brunch, ainda pouco comum na zona. As tostas abertas, as panquecas altas e fofas, e as tábuas de brunch com fruta, granola, croissants e toques portugueses conquistaram tanto turistas como moradores.
«Quisemos criar algo confortável e diferente. Um espaço onde as pessoas se sintam em casa, onde possam vir sem pressa, aproveitar o momento», explica Ana.
A gastronomia mistura inovação com tradição.
«Tenho pratos que trazem um gostinho português, como a tosta feita com fatia dourada, igual à que a minha avó fazia. Gosto de misturar raízes, tendências e memórias. É um equilíbrio entre o passado e o presente», afirma.
O restaurante também é pet-friendly, algo que Ana faz questão de sublinhar.
«Os animais são bem-vindos aqui. O Harmony é um espaço de acolhimento — para todos», diz com um sorriso.
Situado a poucos minutos da praia, mas estando longe da Avenida Beira-Mar, o Harmony funciona durante todo o ano, contrariando a tendência de muitos estabelecimentos da região que encerram no inverno.
«O Algarve não deve viver só do verão. Há movimento, há vida, e é importante oferecer alternativas às pessoas que cá vivem. O inverno também é tempo de trabalhar», defende.
Ana tem orgulho em ver que o esforço compensa.
«Há dias em que olho lá para fora e vejo o comboio turístico cheio a passar, mesmo em outubro ou novembro. Isso dá-me ânimo. É sinal de que Armação de Pêra continua viva — e o Harmony faz parte dessa vida.»
Três anos depois da inauguração, Ana encara o futuro com determinação.
«O primeiro ano foi de descoberta, o segundo de sobrevivência, e o terceiro de consolidação. Agora quero crescer mais», afirma.
A empresária já trabalha com uma equipa de marketing para reforçar a divulgação digital.
«Vivemos numa era de redes sociais. A imagem online é tão importante quanto a experiência presencial. Quero que quem nos veja no Instagram sinta vontade de vir cá e viver a experiência real», explica.
Em 2026, o restaurante vai estrear um novo menu, com sabores e ingredientes inspirados nas tendências internacionais.
«Gosto de criar algo novo todos os anos. Os clientes que voltam encontram sempre novidades. Quero que o Harmony continue a surpreender», promete.
Ao olhar para trás, Ana resume estes três anos numa palavra: desafiante.
«Foi desafiante a todos os níveis — profissional, pessoal e emocional. Passei de duas cabeças a pensar para uma. Mas aprendi muito. Cresci. Hoje sinto orgulho na mulher e na profissional em que me tornei», confessa.
Entre a superação pessoal e o sucesso profissional, o Harmony tornou-se mais do que um restaurante — tornou-se uma metáfora da vida.
«Isto é muito mais do que um negócio. É a minha história, o meu refúgio e a minha força. A harmonia que o nome diz está aqui — entre o passado, o presente e o que ainda vem», conclui Ana Nunes, com o brilho no olhar de quem venceu pela persistência.

