Após 16 anos de serviço autárquico — quatro como «número dois» de Fernando Santiago, antigo presidente da Junta de Freguesia, e quase doze como presidente — Ricardo Pinto faz um balanço sentido, crítico e ponderado da sua passagem pela Junta de Freguesia de Armação de Pêra.
«Tenho orgulho no que fiz, mas não estou satisfeito», sublinha Ricardo Pinto, numa entrevista em que revela o percurso de uma freguesia que deixou para trás dificuldades financeiras graves para ganhar autonomia, ambição e novas estruturas de apoio à população.
Ricardo Pinto entrou na vida autárquica em 2009, aos 29 anos, como Tesoureiro, no mandato de Fernando Santiago.
«Apesar do meu pai ter estado na política, o Fernando Santiago foi o meu pai político», refere com emoção.
Durante esse primeiro mandato, Ricardo Pinto deu um contributo decisivo para resolver as dificuldades financeiras da Junta, que se encontrava com problemas muito graves.
«Com um orçamento anual abaixo dos 300 mil euros e com custos fixos acima dos 250 mil euros, a dívida era castradora da ação política. Só podíamos garantir os mínimos», recorda.
A sua preparação técnica — era técnico superior no período que que exerceu funções da Junta ao lado de Fernando Santiago – aliada ao seu espírito empreendedor — permitiu-lhe aplicar os seus conhecimentos e competências na gestão administrativa da Junta, já que os a legislação aplicável, procedimentos administrativos e financeiros eram semelhantes aos que utilizava na sua profissão no Município de Silves.
«Com a implementação de procedimentos administrativos e financeiros concretizada, foi possível começar a tomar opções com o rigor e o critério que que exigia naquele tempo nas contas públicas», frisa.
Com os problemas financeiros resolvidos, foi possível iniciar um novo ciclo, sustentado nos ensinamentos recolhidos junto daquele que considera ter sido o «melhor presidente de Junta de sempre a ser eleito e aquele com maior longevidade no cargo». Fernando Santiago foi uma inspiração, mas não um modelo a copiar — Ricardo Pinto seguiu um estilo próprio, fiel aos seus princípios e valores, tendo ousado “pensar grande”.
Em 2013, assumiu a liderança da Junta, vencendo com maioria absoluta e tornando-se o primeiro presidente a exercer o cargo a tempo inteiro.
«Para o meu primeiro mandato consegui formar uma equipa incrível, repleta de pessoas com grandes capacidades e competências, e com provas dadas nas suas atividades profissionais e na comunidade. Nesse processo não formei a equipa possível, a que consegui ter, mas sim a equipa que quis ter. Digo isto porque todos os convites que enderecei foram aceites», diz com orgulho.
Apesar da sua ambição e a sua capacidade de concretização, refere que sentiu, frequentemente, um “travão” por parte da Câmara Municipal, o que não o permitiu ir mais longe na promoção de várias iniciativas de valor para a freguesia. Ainda assim, reconhece o papel decisivo da edil silvense na concretização de um sonho antigo da freguesia: a construção da nova sede da Junta.
«Deixo uma palavra de agradecimento e de reconhecimento, porque a atual Presidente do Município de Silves, com a sua equipa, percebeu a necessidade urgente de resolver a questão da inexistência de uma sede própria da Junta de Freguesia e fizeram dessa uma prioridade da ação municipal em Armação de Pêra», destaca.
Recorde-se que, até então, a Junta funcionava num apartamento, de um 1.º andar de um prédio sem elevador e com acesso dificultado à população, onde até 1999 funcionou o Centro de Saúde de Armação de Pêra.
O autarca destaca que assistiu ao crescimento da vila ao longo dos vários mandatos, nomeadamente durante os executivos municipais liderados por Isabel Soares, destacando importantes obras: a construção da via dorsal (atualmente Avenida dos Oceanos), da Escola EB 2,3, da Escola do 1.º Ciclo, do Jardim de Infância, do Pavilhão Desportivo, do Quartel da GNR, do Centro de Saúde, da requalificação da Avenida Beira-Mar, da construção das estradas que dão acesso a Pêra a partir do Parque de Campismo Canelas e o Parque de Campismo de Armação de Pêra, a construção dos apoio de Pesca dos Pescadores, entre outras. Mais recentemente, e nos mandatos de Rosa Palma, mencionou a conclusão do Estádio Municipal, a construção do edifício da Junta de Freguesia, o início das obras na Baixa de Armação de Pêra, o Jardim da Quinta dos Arcos e a ponte pedonal sobre a ribeira de Alcantarilha com a respetiva ligação à ecovia do litoral e a criação do Parque Natural Marinho da Pedra do Valado.
A evolução foi visível: a Junta passou de uma viatura e dois funcionários operacionais para sete viaturas e cerca de 20 operacionais no terreno. A limpeza urbana, por exemplo, chegou a ser feita por apenas 2 funcionários da junta num período em que esteve no executivo com Fernando Santiago, passou para 10 funcionários em funções permanentes.
«Hoje, a grande diferença é que a Junta já não depende única e exclusivamente da boa vontade da Câmara Municipal. Hoje, temos mais recursos próprios, alguma autonomia financeira e, sobretudo, capacidade de executar», salienta.
Além da inegável diferença que esta nova realidade tem no dia a dia das pessoas e no apoio efetivo que é dado pela Junta de Freguesia às pessoas, essa evolução permitiu também passar a apoiar ou reforçar esse mesmo apoio às escolas, associações, coletividades e instituições locais no desenvolvimento das suas próprias atividades, aproximando ainda mais a Junta de Freguesia da comunidade.
«Hoje, os armacenenses sentem que vale a pena viver, trabalhar e investir aqui», afirma o Presidente.
Noutro âmbito, mas referindo-se ainda ao trabalho desenvolvido pelos executivos da Junta de Freguesia por si liderados, refere que sempre prestou apoio e acompanhamento direto durante alguns processos e conquistas importantes para Armação de Pêra, destacando: a construção do Estádio Municipal; a requalificação da Ermida da Fortaleza; a reconstrução da Igreja Matriz após o incêndio; a construção do Centro Paroquial; a implementação do Espaço de Cidadão na Junta de Freguesia, a dinamização de inúmeras iniciativas de cariz cultural, desportivo e recreativo, como o Carnaval, a dinamização das unidades balneares da Junta de Freguesia, a vasta oferta cultural durante o verão, a promoção do evento de fim de ano, entre muitos outros. «Sempre que o assunto foi Armação de Pêra, fosse ou não uma responsabilidade direta da Junta de Freguesia, estivemos sempre lá!», refere.
A reforçar esta ideia, Ricardo Pinto deixa claro: «Mesmo quando não éramos responsáveis diretos, estivemos presentes, articulámos, influenciámos, desbloqueámos. Foi isso que fizemos durante anos, mesmo que não seja percetível a quem tem uma responsabilidade direta, e que ainda continuamos a fazer».
Sobre o crescimento habitacional, Ricardo Pinto refere que o Plano de Pormenor de Armação de Pêra, com responsabilidade política direta da Dr.ª Isabel Soares, antiga Presidente do Município, e que teve como “padrinho” o Presidente da República da época, Dr. Jorge Sampaio, foi transformador para Armação de Pêra. A partir do momento em que o mesmo entrou em vigor, passou a existir critério, um fio condutor e sobretudo regras no desenvolvimento urbanístico de Armação de Pêra que até então todos conhecemos os resultados. Sublinha, contudo, que continuam a faltar muitos espaços e equipamentos de fruição pública e que embora a praia seja, por excelência, o grande espaço público de Armação de Pêra, a freguesia merece e precisa de mais oferta a este nível para que a qualidade de vida das pessoas que cá mora e que nos visitam possa melhorar substancialmente.
Entre os momentos altos do seu mandato, destaca obras como: o Estádio Municipal, a sede da Junta de Freguesia, a ponte pedonal sobre a ribeira de Alcantarilha e a 1.ª fase das obras na baixa de Armação de Pêra, o início da Requalificação da Rua D. João II e a construção do Parque de Estacionamento da Praia dos Pescadores, prestes a abrir ao público, previsto para segunda-feira, dia 23 de Junho. Noutro âmbito refere-se ao sonho de ter ensino secundário em Armação de Pêra e os passos que já foram dados nesse sentido e, com muita emoção, refere-se à realização do evento cultural “Pirate Week”, pela associação Polis Apoteose, totalmente constituída por jovens armacenenses e que colocou «Armação de Pêra nas bocas do mundo».
«Porque quero muito e acredito que o Pirate Week voltará a ser uma realidade em Armação de Pêra, assumo desde já o compromisso, independentemente de onde esteja, de tudo fazer para que tal aconteça e quando esse momento chegar, farei questão de me voltar a mascarar de pirata, com a minha família, para ajudar à festa», brinca.
Apesar das limitações orçamentais, Ricardo Pinto orgulha-se de, com as suas equipas, mais do que ter feito muitas coisas, ter feito as coisas certas. Aquelas que realmente importavam e estavam ao alcance da Junta de Freguesia.
Referindo-se ao crescimento exponencial da população que Armação de Pêra regista em épocas festivas e no verão, passando de 6 mil pessoas para mais de 100 mil, diz que «Muitas pessoas exigem de nós respostas como se fôssemos uma Câmara Municipal. Mas não somos. Não temos essa missão. Não obstante, damos sempre o nosso melhor, mesmo sabendo que por vezes isso não é suficiente», garante.
«Com a forte pressão que é exercida sobre todas as estruturas e serviços públicos durante o verão, sem um reforço efetivo dos meios por parte do Estado Central e da Câmara Municipal de Silves, a Junta de Freguesia nunca conseguirá dar a resposta que se exige, que é necessária e que Armação de Pêra merece», alerta.
A este respeito, recorda com emoção a expressão vai célebre de Fernando Santigo que diz também ter adotado para si: «Armação de Pêra não é mais nem menos que as outras freguesias, mas é diferente!»
Entre os projetos que gostaria de ver concretizados, destaca uma construção de uma Escola Secundária, a conclusão do Estádio Municipal com bancadas, um segundo campo de futebol e boas acessibilidades, mais casas de banho públicas, o parque de estacionamento a poente da vila, mais e melhores espaços de fruição pública, a requalificação do Mercado Municipal de Armação de Pêra, a ampliação do Cemitério, entre outros.
Recorda-se de cada momento com saudosismo e defende o progresso com respeito pelo legado que os nossos antepassados nos deixaram.
«Armação está diferente, mas não está pior. Perdemos coisas importantes, mas ganhamos outras também importantes. Está mais urbanizada, agora com critério, mais complexa, mais desafiante. Precisamos de mais espaços públicos, de zonas verdes, parques, infraestruturas sociais».
O objetivo futuro é claro:
«Quero que Armação de Pêra se torne cidade. Isso significaria que conseguimos dotar a vila de um conjunto de equipamentos e serviços que atualmente ainda não tem», afirma o autarca.
Recentemente a freguesia ultrapassou os cinco mil eleitores, o que traz novos direitos: mais verbas do Estado, um executivo na Junta de freguesia que passa de 3 para 5 elementos, mais médicos, mais efetivos da GNR, entre outros.
«A maior herança que deixo é a estrutura — humana, técnica, financeira — que preparei. Quem vier depois, vai encontrar a Junta de Freguesia com uma base muito mais sólida do que aquela que eu encontrei. Vai encontrar uma Junta de Freguesia mais bem preparada para os desafios futuros que vão surgir».
Durante os seus mandatos, Ricardo Pinto conheceu a sua esposa, casou, teve duas filhas, a Camila e a Juliana, e continuou a escolher Armação de Pêra como a sua casa.
«Apesar de ter nascido em Beja, Armação de Pêra é a minha terra. Falar de Armação de Pêra e das suas gentes comove-me sempre. Foi aqui que cresci, que comecei a trabalhar, que casei, que investi e que decidi viver. Sinto muito orgulho no que, com todos os que me acompanharam, fui capaz de fazer, mas também sinto que num outro contexto político, poderia ter feito muito mais».
Ao assinalarem-se 34 anos da elevação da vila, o autarca deseja um grande futuro para Armação de Pêra, e faz um balanço claro:
«Coloquei a Junta de Freguesia num patamar onde ela nunca tinha estado. Passamos de um orçamento que não chegava aos 300 mil euros para um orçamento próximo de 1 milhão de euros anuais. Faço um balanço extremamente positivo, mesmo reconhecendo que ficou muito por fazer».
Ao futuro presidente que venha a assumir a liderança da Junta deseja muito trabalho e toda a sorte no desempenho destas funções de grande exigência referindo que, tal como aconteceu com ele, «o futuro presidente já não vai ter de resolver coisas que os outros que o antecederam já deixaram resolvidas, mas terá de resolver muitas outras coisas e esta certeza de que este trabalho nunca tem fim é o melhor de tudo».
Emocionado, refere: «Fui um Presidente que abraçou esta função com um grande espírito de missão. Nunca fiz nada à espera de reconhecimento. Tal como todos os que me antecederam, sempre fiz tudo o que consegui, com o que sabia, com o que tinha e sempre com o propósito de contribuir para melhorar a minha terra e ajudar todas as pessoas que me foi possível ajudar. Por este motivo, quando terminar as minhas funções sairei de cabeça erguida, com o sentimento de dever cumprido e com uma eterna dívida de gratidão a todos os Armacenenses que me deram a oportunidade de exercer a função de Presidente de Junta de Freguesia!».
Ricardo Pinto terminará o seu último mandato este ano e olha para o futuro com otimismo e com a certeza de que Armação de Pêra continuará o seu desenvolvimento de progresso e rumo a um futuro promissor. O Presidente considera que irá deixar a Junta de Freguesia bem melhor do que a encontrou, com mais autonomia e sobretudo, mais bem preparada para os desafios que tem pela frente.
O autarca fez questão de agradecer à sua família todo o apoio que sempre recebeu, a todos aqueles com quem trabalhou no executivo e assembleia de freguesia, a todos os funcionários da freguesia e a todos os Armacenenses, não só que que cá residem, como aqueles que foram residir para outros lugares e todos aqueles que nos visitam.
A finalizar refere que gostava de deixar a sua função e Presidente da Junta de Freguesia já com o problema da baixa de Armação de Pêra resolvido, o que já não irá acontecer, da mesma forma que queria ver a zona nascente da vila totalmente requalificada, que também não será totalmente possível. «No entanto, será ainda nestes próximos dias da minha presidência que o Parque de Estacionamento da Praia dos Pescadores irá abrir ao público, embora num modelo de gestão diferente daquele que a dada altura acreditei ser possível e tudo fiz para que fosse uma realidade. Nesta fase isso pouco importa, porque para mim, independentemente de quem possa ter o mérito, e para mim é muito claro quem o tem, importa sobretudo que Armação de Pêra e os armacenenses fiquem a ganhar. Fico com essa certeza e com o sentimento de tudo ter feito para ajudar a finalizar mais um processo da maior importância para esta terra!», disse.
«A Junta de Freguesia já não precisa mais de mim. Está hoje num patamar onde nunca esteve e com todas as condições para alcançar coisas muito importantes para todos nós num futuro próximo. E assim será. Termino a minha missão com o sentimento de dever cumprido e com muita confiança no futuro», conclui com emoção.