João Ferreira: Do Ribatejo para os "Fados na Praça" em Armação de Pêra

João Ferreira: Do Ribatejo para os "Fados na Praça" em Armação de Pêra

 

João Ferreira chegou a Armação de Pêra há 36 anos, vindo do Ribatejo, e fez da vila algarvia o centro da sua vida, da sua família e da sua paixão pelo fado.

Quando tinha os seus 30 anos, João trabalhava em cruzeiros internacionais, com passagens pelos Estados Unidos, Orlando, México e Miami. Mas foi numa visita de férias, acompanhado da esposa e incentivado pelo cunhado, que decidiu trocar os mares pela tranquilidade algarvia.

Começou a trabalhar no talho “Faste ó Bife”, então existente na vila, com um salário de 90 contos. A escolha não foi por acaso: desde os 14 anos tinha gosto pela profissão de talhante, com experiência em cruzeiros e carteira profissional de “Magrévio Salsicheiro”. Mais tarde, trabalhou nos supermercados Marrachinho, Modelo e Mini Preço.

Ao longo dos anos, criou amizades, construiu raízes e, passados quatro anos, adquiriu o seu apartamento. Ligou-se ao desporto e à cultura local, destacando-se como forcado durante 12 anos. Nessa altura, Armação de Pêra chegou a ter uma arena móvel de touradas, perto do Parque de Campismo.

Já reformado da atividade de talhante, entregou-se à sua grande paixão: o fado. A ligação à música vem de família — os irmãos cantavam e a mãe, de quem guarda a memória de uma “voz linda”, chegou a ganhar 500 escudos num programa de televisão.

Antes de se fixar em Armação de Pêra, teve o privilégio de conhecer Amália Rodrigues. Através de um amigo, assistiu a espetáculos e entrevistas da diva do fado e acompanhou-a até à sua terra natal, no Ribatejo.

Com o regresso ao Algarve, e já na altura em que Fernando Santiago presidia à Junta de Freguesia, voltou a dedicar-se ao fado. Atuou na Avenida, na sede do Clube de Futebol Os Armacenenses e no antigo Casino, especialmente entre as décadas de 1980 e 1990.

Com o apoio de Ricardo Pinto, então tesoureiro e atual presidente da Junta, criou o espetáculo “Fado na Praça”, que se realiza no largo da Junta de Freguesia. O evento tornou-se tradição e sucesso de verão, trazendo artistas do Algarve, Lisboa e Ribatejo.

«O Ricardo tem sido uma pessoa sempre disponível. Os apoios, tanto logísticos como monetários, nunca falharam. Sempre consegui organizar os espetáculos com a ajuda da publicidade local», conta João Ferreira.

Artistas como Teresa Viola, Pedro Viola, Helena Castro e Helena Candês foram promovidos por João, sendo hoje nomes respeitados no circuito algarvio.

A paixão pelo fado acompanhou João na construção da sua vida familiar. Com a mulher, teve filhos e netos, e nunca deixou de cultivar a música. «Ainda agora andava ali na praça e estavam-me a perguntar: João, onde é que está o fado?», recorda com orgulho.

Para 2025, já está a planear uma nova edição do “Fado na Praça”, com nomes como os guitarristas Diogo Ferreira e Geada, e a fadista Linda Tavares — aguardando apenas confirmação das datas.

Além de organizador, João também orienta jovens artistas. Um exemplo é João Leote, revelado no programa da RTP, que atuou no antigo restaurante Boca Xica e foi levado ao “Fado na Praça”. Outro é Pedro Viola, a quem chama “grande fadista do Algarve”.

João Ferreira continua firme nos seus compromissos. «Gosto de nunca falhar a ninguém, ao nível dos artistas. Ainda hoje tenho esse ganho. Nunca me disseram que não», garante.

Comunicativo, apaixonado pela cultura e pelo desporto, João é hoje uma figura incontornável da vila. E, acima de tudo, um homem do fado.

«Enquanto tiver forças… eu sou do fado, pronto», afirma com convicção