Dona Gracinha, como é conhecida pelas pessoas da terra, foi responsável pela construção de um presépio que ao longo dos anos muito tem orgulhado a vila.
Gracinha tem 79 anos, foi sempre ligada à igreja e consequentemente à época natalícia. Desde pequena que ia à missa com a mãe, fez o batismo, a comunhão, foi catequista muitos anos e até hoje nunca se desligou do catolicismo. Recorda que enquanto catequista nunca distinguiu meninas de meninos, eram todos iguais.
Teve uma infância saudável, marcada pelas muitas amizades conservadas e cresceu com os presépios da mãe, que colocava as principais imagens em cima da mesa, por merecerem maior destaque. Iam sempre a Alcantarilha visitar os presépios da Dona Bia Ferro, da Dona Litas e da Dona Bia Franco, conhecidas por fazerem presépios que naquele tempo já eram de grande dimensão.
Como na altura Armação era dependente de Alcantarilha, era também lá que iam, a pé, à Missa do Galo, visto que a Igreja Matriz foi construída anos mais tarde, e só existia a Capela para as celebrações.
Recorda que começou a construir os seus presépios, por volta dos seus sete ou oito anos, em casa, com areia, um balaio e com as principais imagens. Mais tarde, começou a fazer uma coleção de peças, oferecidas ou compradas pela sua mãe, e os presépios foram ficando cada vez maiores. Para se fazer um presépio de grande dimensão era necessário um espaço também grande, que D. Gracinha tratou de arranjar. As suas construções foram feitas em vários sítios como a atual loja de fotografias “Memories” ou a loja ao lado da papelaria “Lúcia”, em 2017.
A montagem demorava aproximadamente 1 a 2 semanas a ser feitos, pois os presépios eram muito minuciosos. Tinha, por exemplo, o hábito de utilizar musgo que ia buscar propositadamente ao campo. Começava a fazer um mês antes do Natal e deixava ficar até ao meio de janeiro, pois tinha pena de o desmontar, deixando sempre para o amanhã. Sempre gostou muito de manter as tradições, mesmo fazendo tudo sozinha. Fazia e gostava de fazer. O seu filho ajudava a carregar os caixotes com as peças do presépio e a Gracinha montava. Mesmo que começasse a fazer dia 20 de dezembro, conseguia fazer a tempo.
Às vezes chateava-se durante o processo do presépio, pois tinha uma ideia de como o fazer e não saia como queria, e afirmava sempre ser o último ano que fazia, mas quando acabava prometia que no ano a seguir haveria mais.
As construções destes presépios foram realizadas durante mais ou menos 30 anos, terminando, assim, em 2018, deixando de os fazer. Gostava sempre de fazer para as pessoas apreciarem e as pessoas gostavam sempre de o ver, chegando muitas vezes a comentar: “Isto é coisas da Gracinha”.
Atualmente, já não consegue fazer presépios majestosos como os que os armacenenses tiveram oportunidade de usufruir durante anos, mas continua com a tradição e nos últimos anos faz um presépio grande no interior da sua casa, ao lado da janela, agora com a ajuda do filho.
Entre outras paixões e atividades em que foi participando ao longo da sua vida como por exemplo no Carnaval, esta quadra natalícia nunca passou despercebida, pois estava sempre fora de questão deixar de se fazer o tradicional presépio.
Quando chega esta época, recorda a magia que existia, a montagem dos grandes presépios em Armação e a confiança que abundava entre as pessoas que passavam na rua ao cumprimentarem-se umas às outras. Agora, lamenta, que as pessoas não se falem como antes, e não se lembrem tanto do amor, da fé e do respeito.
Atos e sentimentos que são essenciais no verdadeiro espírito de Natal. Mas sempre se lembrará com carinho do seu majestoso presépio que deu a alegria a todos os que iam de propósito para o ver, ficando sem dúvida um marco para a memória de todos nós.
Notícia publicada originalmente em 2021 no jornal físico "Notícias do Mar", apenas com a alteração da idade atual 2025